Você assume a responsabilidade pelas suas decisões?
“Gostaria muito de encontrar um bom terapeuta que possa resolver meu caso…” “Casei muito nova e sem amor, vencida pela insistência dele…” “Não consigo me separar pois meu marido não aceita…” “Eu estava alcoolizado…” “Eu a traí por que ela me traiu primeiro…”
Em comum, todas as personagens acima delegam a responsabilidade para outras pessoas, sobre o problema e por sua solução. Certamente suas histórias estão repletas de acontecimentos, relacionamentos, e decisões que não desejaram.
O sofrimento nos faz procurar um responsável pela nossa dor, nos torna vítimas, e em consequência, faz do outro o responsável por mudar e tornar nossa vida melhor; desvia nossa atenção da dor e focaliza nas injustiças que estamos sofrendo, dando um alivio temporário e ilusório. Você está exatamente onde suas escolhas o levaram – sua qualidade de vida, seus relacionamentos, bons ou maus, o fato de estar sofrendo ou não. Só você sabe o que é bom ou ruim para você, o que gosta ou não, o que lhe dói, o que lhe conforta e atende suas necessidades.
A primeira responsabilidade de cada um de nós é cuidar de nós mesmos. Se colocarmos as necessidades dos outros adiante das nossas, estaremos negligenciando nossa primeira responsabilidade que é preservar nossa própria vida e nosso bem estar, até mesmo para cuidar daqueles que precisam de nós, como nossas crianças, nossos velhos e dependentes. Se você acredita que as pessoas têm o dever de sentir suas dores por você, ou que devem desistir do que lhes é importante e significativo para que você seja atendido, está esperando um grau de altruísmo difícil de encontrar.
É inevitável haver conflito entre as diferentes necessidades das pessoas. Cada um luta para satisfazer as suas necessidades e essa luta costuma gerar desentendimentos e competição – a busca da satisfação de uma pessoa frequentemente significará desconforto e frustração para outra. Você pode querer denominar suas necessidades de “fazer o que é certo” e as do outro de “egoísmo”. Dessa forma, deixa de perceber que o outro também precisa se sentir bem e evitar a dor. Ele não está certo nem errado – apenas tem necessidades diferentes das suas.
Se você está infeliz, é grande a probabilidade de que as estratégias que você tem usado para resolver seus problemas não estejam funcionando. Sendo responsável, você é que deve mudá-las, de forma a que lhe atendam melhor. Sendo responsável, você tem o poder de transformar raiva impotente – o que se sente diante do desastre de situações como as mencionadas no início do artigo – em consciência e controle da situação. Quando se faz o papel de vítima, morrendo de pena de si mesmo, fica impossível desenvolver suas próprias e novas estratégias.
Você pode incumbir-se pessoalmente de fazer daquilo que deseja, ou desenvolver habilidades para motivar o outro para que o ajude; pode ainda investir em novas fontes de apoio, força e valorização, fazendo novos amigos, diversificando atividades, procurando por novos interesses, ao invés de fazer exigências a alguém que não pode ou não está disponível para dar o que você quer; você pode praticar a arte de dizer “não”, estabelecendo limites, ao invés de sentir raiva diante das solicitações alheias que lhe parecem injustas ou abusivas. Ao invés de perder tempo reclamando dos outros diante de suas condutas inadmissíveis ou manipuladoras, transmita uma mensagem clara e firme de que você só irá até certo ponto. Os limites, desconhecidos para os demais enquanto não os deixa visíveis, em alto e bom som, são como boas grades, impedindo invasões em seu território. Além de tudo isso, você pode pedir diretamente o que quer, negociando com firmeza. Como suas necessidades geralmente entram em conflito com as dos outros, na maioria das vezes apenas fazer pedidos diretos e claros não é suficiente. Talvez você precise oferecer algo em troca, ou fazer um acordo, de maneira que as duas partes fiquem satisfeitas.
A última estratégia que nos resta quando todas as outras não deram certo é “abrir mão”. “Abrir mão” implica em aceitar, primeiro, que uma determinada situação não vai mudar, e depois, que está lhe custando mais do que lhe trazendo benefícios. Resistir a ela ou fazer campanha contra apenas aumentará sua frustração e infelicidade. É a sua última proteção diante de uma situação sem saída, onde nada parece mudar e o sofrimento é intenso. Muitas pessoas, com medo de encarar essa opção, sobrevivem infelizes em seus casamentos e empregos; tem acessos de raiva para afugentar a dor. Mas também têm razões para ficar: alguém depende delas, alguém poderia sair ferido, elas ficariam sozinhas, sofreriam perdas financeiras ou rejeição e desaprovação. E assim, resta-lhes a sensação de estarem num beco sem saída, de serem vítimas. Cuidar de si mesmo em geral custa caro. Mas, mesmo que você esteja disposto a pagar o preço, ainda assim é responsável. Não decidir é também uma decisão, porém sem desejo e carregada de raiva impotente. E normalmente quando sentimos raiva, achamos que não temos nada a ver com isso, e que o outro é que tem que mudar. O problema é que a raiva crônica muda os outros apenas no curto prazo – a longo prazo é ineficaz e afasta as pessoas, além de causar doenças e ter um alto custo.
Ser responsável pelo desfecho de todas as suas interações quer dizer que se você não está satisfeito com o modo como as pessoas o estão tratando, só você pode fazer as necessárias modificações em seu comportamento para que isso mude, porque apenas você sabe o que quer e o interesse é seu. É sua responsabilidade tentar novas estratégias até que uma dê certo. A questão não é “Quem é o culpado pelo meu sofrimento?”, mas sim: “O que posso fazer a respeito?”. Se continuar empregando os métodos atuais, ninguém lhe dará, de boa vontade, mais do que já está recebendo. Se está usando estratégias de coerção, tais como a raiva a longo prazo, você pode esperar até que o tem recebido vá diminuir com o tempo. A outra pessoa só mudará com a percepção de que o novo comportamento é de seu próprio interesse – é uma lei da natureza. Aceitando-a, você se tornará muito mais eficiente para resolver as suas próprias necessidades.
Você nunca é vítima, você tem escolha. As únicas vítimas verdadeiras são as crianças porque têm muito pouco controle sobre a forma de suas vidas.
Texto baseado no livro “Quando a Raiva Dói – Acalmando a Tempestade Interior”. Matthew McKay; Peter D. Rogers; Judith McKay. Summus Editorial – São Paulo – 2001.Atualizado em 15/08/17
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